Livro da vez: Haikus
Não é fácil achar Haikus. Você
não irá encontrá-lo jogado em uma estante qualquer, de qualquer livraria.
Demanda esforço, uma trilha em mata fechada, difícil de ser rompida. A edição
brasileira da Pipa Livros, com tradução de Carlito Azevedo, é ainda mais rara.
Numerados, foram publicados apenas 500 livros em primeira edição. Capa
caprichada, livro em formato de bolso e cinquenta páginas que carregam o melhor
de César Aira. Todo sacrifício é recompensando.
Há algum tempo penso se gosto
mais da ficção do autor argentino, ou de sua posição frente ao mercado
literário. Se a prosa é vigorosa, original, ágil e carregada de ironia
verdadeira, sua postura como autor e visão de Literatura representam a
vanguarda da qual comumente reclamamos a ausência.
Autor de pequenos romances, mais
achegado às novelas e aos contos, Aira opta sempre por editoras menores, que
prestam um serviço valioso à arte: publicar obras de valor literário real. Também
é comum que seus livros sejam publicados com maior esmero gráfico que o
ordinário e as tiragens sejam pequenas.
Alguns detratores afirmam que
tudo não passa de estratégia, mas eu confio sempre na palavra do homem. César
Aira ensina que o autor deve se preocupar com a escrita, qualquer outra
atividade relacionada ao livro – especialmente quanto a sua divulgação –
equivale a deixar de escrever. E vai além.
Afirma que prefere a calmaria das
prateleiras silenciosas e sugere aos editores não insistirem na difusão do
livro que, segundo suas palavras, deve ter ‘paciência para esperar o leitor,
ainda que isso demore muitos anos’. (link para reportagem de O Globo - http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/06/09/cesar-aira-lanca-haikus-defende-editoras-independentes-449548.asp)
Exageros à parte, estamos diante
de um dos principais escritores contemporâneos da América da Latina, cuja obra
é pouco visível no Brasil, apesar de universal e muito identificada com as
sociedades sul-americanas.
Nesse Haikus, motivador da
coluna, o protagonista cobra uma dívida por meio de cartas. Não se sabe o
montante – apenas que é muito significativa para quem emprestou; não se sabe
quem é o credor, ou o devedor; não se sabe se será paga, ou se haverá calote.
Os sentimentos que se inflamam
com o passar das páginas se encaixam em qualquer interpretação e podem
representar a pobreza, a indignação, a justiça, ou sua ausência. É isso que
imprime no texto um caráter de atualidade e universalidade que o carrega a
qualquer canto do planeta, possibilitando sua compreensão por qualquer cidadão
do mundo.
Continuo sem me decidir se é a
prosa ou a teoria de Aira o que mais me encanta – e penso que permanecerei
assim por muito tempo, o que pouco importa. Até lá sigo na luta para encontrar
e ler alguns dos seus mais de setenta livros publicados.
Boas leituras.
Livro: Haikus
Autor: César Aira
Editora: Pipa Livros
Cotação: &&&&
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